domingo, 29 de março de 2009
Poema (en)contra língua.
L(M)íngua.
Cada ponto dessa linha me equivale, vírgula.
Cada vírgula nesse ponto me equivale, frase.
Cada espaço desse tempo
Cada modo desse verbo
Cada voz
Cada termo,
Essencial ou não,
Me equivale
Porque sou eu minha própria língua
Ainda que a palavra “regra” me cale.
Se conjugo, esconjuro:
Libera nos domine!
Só me solto
Não me importo
Contra o verbo
Solto o verbo
Só me falo da maneira que me quero
Minha língua é pra beijar
Suco desejoso da liberdade
Aquém-além mar
(M)eu português-identidade.
segunda-feira, 23 de março de 2009
O que você já quis ser antes de crescer? (ainda não conclui)
sexta-feira, 13 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Nonsense (poema)
Que me fazem perder os sentidos,
Quero sentir nonsense!
Sentir como se sente o vento:
Um toque,
Um adeus
E a lembrança
Fixada no frescor da pele.
Andar descalça
Olhar pro céu
Pensar no rio
E rir o meu melhor riso
Guizo a prenunciar passagem,
Lembrança em viagem.
Quero ouvir o som
Que o vento toca
E retoca num Déjà Vu:
Música que se compõe ouvindo.
Quero a liberdade do nu
De me despir de tudo que me molda,
Ser abstrata.
Quero correr para buscar
Um não sei o quê
E voltar pra casa alegre por encontrar
Quero não saber lidar
E usar e ter e sentir
Cada vez mais gastar
Quero ser nonsense!
Esse é o poema que inspirou o nome do blog, escrito há alguns meses. ALOHA!!! :p
Roupa
Estilos imutáveis
Não quero um estilo,
Quero variáveis!
Quero formas, jeitos, sentidos, ser, estar.
Não. Eu não uso roupa-rótulo.
Minha tez é que me veste
Não é etiquetada, mas é marca registrada.
Em constante mutação,
Como bicho,
Sou alheia a qualquer tipo de prisão
Respeito quem se prende,
Mas exijo meu direito de liberdade.
Quero sim, meu direito ao não!
Quero ser diferente em igualdade.
Passo solta entre panos
Passo livre, não me encaixo.
Mudo,
Transmuto,
Reviro-me do avesso
Nada me cabe por fora
A mim teço,
E só por dentro me acho.
Caleidoscópio
Me olho no espelho tento ver meu rosto, mas ele reflete apenas a tua imagem. Minha beleza silenciosa te grita, não há resposta nem eco. Oco. Ainda nem sei se existes, era mais calmo quando havia certeza, mas agora a tua imagem se fragmenta num caleidoscópio humano de cores e sensações mutantes e adversas. Agora me vejo montando pedaços de ti, formando e reformando-te em arte. É meu querido, sou artista de ti−sem dom. E o meu rosto é apenas uma loucura obscena, um nu de mim mesma. Há um sem-número de imagens refletidas num jogo de espelhos policromos. Há a tua quase existência sendo refeita num giro ausente da minha figura triste e invisível. Loucura? Delírio?
Por vezes penso em ti a ponto de te inventar, outras ao cúmulo de te ser. Seja uma criação da minha irredutível carência, seja uma necessidade da tua existência, seja pura loucura (é loucura), o fato é que já não sei até que ponto somos nós, até que ponto somos, tu e eu, sós. Deves ser a parte que me falta, o quem em mim não existe, és, meu querido, a contemplação dos meus olhos tristes. Ou não, és apenas tu (?). Mas a Loucura já me disse que “tirada a ilusão, toda obra desmorona” e o que seria de mim sem a doce ilusão da tua existência? O que seria da ilusão sem mim? Existir.
E eu, adoradora de enigmas, que desvendo os segredos mais íntimos num olhar, num sorriso. Eu que sempre sei o que se passa (não em mim, pois sou meu maior mistério) nas mentes e corações. Eu que num minuto de silêncio ouço confissões involuntárias. Eu que te crio e recrio nem sequer consigo entender, desvendar teu mistério.
É essa a imagem que tenho de ti, a que tu me permite ter: pedaços que dançam no meu pensamento, fragmentos dispersos e confusos. Basta uma palavra tua e tudo se esclarece. Mas não, nunca me digas! Te amo por não entender. A beleza de tudo isso é desconhecer, é poder te amar e não ter, é poder sentir e não beijar. Mas como quero, aí sim será mais belo.
Também não tente me entender, sou incoerente e tenho uma inquietude infindável em minha alma. Nunca espere de mim certeza, pois a “coerência é o fantasma das mentes pequenas” e a inconstância é minha essencial substância. Não há máscara nenhuma a encobrir meu rosto, há multifaces desnudas e misturadas. Escolha a que mais te agrada ou queira-me inteira: tenha-me todas.
Me chame do que quiser, sou louca sim: amo. Amo sem entender, as vezes nem é amor, mas quero tanto que amo mais e mais.
Tenha medo de mim, pois sou o caminho no qual podes te perder (as vezes encontramos nosso destino no caminho que tomamos para fugir dele). Tenha medo porque a felicidade assusta.
Fuja e me encontre no mesmo jogo de espelhos que te vejo, onde me perdi: caleidoscópio humano em si.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Poeminha simples.
Talvez eu realmente não tenha nenhum talento pra escrever, mas mesmo tendo plena consciência disso, não consigo parar. É que as vezes, inesperadamente, me vem um suspiro repentino e apaixonado em forma de palavra. Não é inspiração, é necessidade. Às vezes esse suspiro se transforma em canção, outras em silêncio. Mas sempre me liberta, me acalma, me alimenta. E num desses dias, me veio mais um suspiro e saiu esse poeminha simples.
Terra seca.
É saudade.
Os dias passam cheios de preguiça,
A presença enguiça
E nada se move (nem comove):
imóvel-inativo-seco.
É saudade
E a terra é tão fria
A cama vazia mais ainda.
Quando aprendi a chorar,
Parei.
A dor é tranqüilidade
E a outra forma,
A saudade,
É salvação.
Sem lágrima,
Sem ele
Tudo é calma
É vazio de mim
É não-vida.
As palavras voltam
Verdes à árvore.
O pensamento,
À semente.
E o sentimento
(ainda sem nome)
À espera da chuva.