terça-feira, 9 de março de 2010

Um tempo parada.

Por vezes tenho vontade de me entender um pouco mais, me olhar no espelho e descobrir, ao menos, um pouco de verdade- ou mentira. Mas não muito, só o suficiente para que eu deixe de me estranhar, de ter medo do que desconheço, mas sem deixar de ser mistério.
Me sinto um pouco como um dia-com-cara-de-chuva-que-não-chove. Nesses dias, os planos ficam à mercê da promessa: não se sai de casa porque vai chover ou se sai com um guarda-chuva para se proteger. E não chove. Um dia perdido ou um peso a mais para carregar na bolsa. É o medo sempre, medo de se molhar, de acontecer e de fazer acontecer. Como se a vontade se transformasse em vontade de não realizar vontades. Comodismo? Talvez.
Quanta vontade e medo de vida eu tenho. Quanta! É uma inanição faminta que me desagrada ao extremo.
Em determinada indeterminação, é assim que eu caminho. A vontade vem lenta aprendendo com tropeços a caminhar em passos quase desistidos. O rosto me vem aos pés, um espelho poeirento, um reflexo do que não é. A cara pisa o chão, suja. Os pés estão na calçada descalçados esperando a vida passar. Como posso ser tão sem ser nesse tempo de hoje passado há um, dois, três segundos? Como posso não poder? É calma demasiada ou preguiça de chagar onde sempre quis querer? A estrada não me vem aos pés, temendo o peso, talvez. Um caminho de elástico me estica e eu aqui como quem quer andar sem tirar os pés do chão, estática. É mais uma vez o desencontro, a sina de estar só: o rosto não mira o horizonte, os pés não pisam o distante, a vontade não se fazendo acontecer. É mais uma vez a falta de um não sei o que, a ausência daquele que não quis aparecer.